14-09-2011
Entrevista do Semana Informática ao Presidente do Grupo First, José Correia de Sousa

?Semana nº 135 de 9 a 15 de Setembro de 2011

 
Por Luísa Dâmaso, jornalista
 

 

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José Correia de Sousa,
presidente e CEO do Grupo First

?O investimento em inovação é uma das imagens de marca da companhia, que garante estar apta a responder à procura do mercado de saúde e à sua necessidade de mais rigor e eficácia na gestão.

Sedeado no Porto, o Grupo First investe mais de 15% do seu volume de negócios em I&D. Com mais de 400 referências no Sistema Nacional de Saúde (SNS) e com projectos nos principais grupos privados que actuam neste sector, a empresa gerida por José Correia de Sousa aposta forte na expansão internacional. Está presente nos mercados de Espanha e do Brasil e prepara-se para entrar na Polónia. O negócio internacional representa já 12% dos proveitos da companhia. Em entrevista ao Semana, o CEO da companhia fala do negócio e das soluções e diz-se expectante em relação ao c
aminho que o novo Executivo seguirá na área da saúde em Portugal, mercado que alicerça o Grupo.


Semana Informática – Quais são as principais falhas que apontam à política de informatização/modernização do sector da saúde?
 
José Correia de Sousa – Ao longo dos últimos 15 a 20 anos houve uma evolução enorme na modernização e informatização da saúde, mas desde há cinco ou seis anos a esta parte, e atendendo a tudo o que tinha sido feito anteriormente, penso que poderíamos ter acelerado e colocado no terreno algumas ideias de que se falam há vários anos, mas poucas saíram do papel. Sempre se falou no controlo da despesa na saúde, e hoje estas são palavras de ordem, porém, existem áreas que trariam economia financeira e de recursos e que não foram abordadas em tempo útil.
Uma das mais evidentes, e que agora é muito falada, é a prescrição electrónica de medicamentos e de meios complementares de diagnóstico, que claramente traz economias ao Estado. Pecam só por tardias.
Além disso é urgentíssimo investir em ferramentas de gestão. Com os meios existentes no terreno é impossível, a qualquer gestor, conseguir gerir com rigor e eficácia uma unidade de saúde. Para haver controlo orçamental, de produção e também avaliação qualitativa dos serviços prestados, têm de ser disponibilizadas outras ferramentas de auxílio à gestão intermédia e de topo.
 
 
S.I. – A falta de interoperabilidade ainda é um problema?
 
J.C.S. – Depende da perspectiva! Para o Grupo First, a interoperabilidade é, além de uma oportunidade de negócio, algo imprescindível numa unidade de saúde. No entanto, algumas empresas privadas ainda não têm a mesma visão, e na prática isso acaba por resultar num problema para o mercado. Só lamento que essa visão limitada acabe por condicionar bastante o ritmo de evolução que poderia existir em algumas áreas. Estou convencido de que o tempo as fará mudar de opinião, mas para tal é muito importante que o cliente tenha um papel mais activo do que aquele que tem existido.
 
 
S.I. – Estão expectantes em relação ao caminho que o novo Executivo vai seguir na área da saúde?
 
J.C.S. – Estamos. Claro que sim! Mas é ainda muito cedo para perceber o que terá continuidade e o que poderá ser reajustado ou alterado.
 
 
Benefícios económicos efectivos
 
S.I. – Se pudessem sugerir medidas no plano do Governo, quais seriam as que apontariam como prioritárias e indispensáveis?
 
J.C.S. – A redução de custos no Serviço Nacional de Saúde por melhoria e racionalização de processos. Para isso é necessário efectuar alguns investimentos, na maioria, relativamente pequenos e com um return of investment (ROI) de alguns meses. Por exemplo, na região do Porto foi implementado com enorme sucesso o projecto Urgência Pediátrica Integrada do Porto (UPIP), que permite criar uma rede de referenciação para todos os participantes na rede de urgência, sejam centros de saúde, hospitais especializados e hospitais centrais (neste caso o Hospital de São João). O serviço foi melhorado e diminuíram os custos, pois evita-se a duplicação de exames. Este é o tipo de projecto com benefícios económicos efectivos que pode ser implementado em qualquer região do País.
 
 
S.I. – A instabilidade económica afectou de algum modo a vossa operação em Portugal?
 
J.C.S. – Apesar do contexto económico desfavorável, a empresa apresenta resultados muito positivos no final do ano. O crescimento alcançado não é o esperado e a instabilidade financeira do País condicionou alguns investimentos previstos a curto e médio prazo, sobretudo nos mercados internacionais. Continuarmos a crescer, a inovar e a consolidar a estratégia que o Grupo tem desenvolvido ao longo dos últimos anos. Do ponto de vista estratégico, estamos a continuar o caminho e os objectivos traçados mesmo antes desta crise económica. Além de estarmos a entrar em novos mercados internacionais com a oferta actual, estamos, em paralelo, a alargar a nossa oferta para a saúde noutras áreas totalmente novas. Ou seja, estamos também a criar novas oportunidades no mercado nacional, que é, obviamente, o que conhecemos melhor.
 
 
S.I. – Que alterações perceberam no mercado, desde o início do ano?
 
J.C.S. – O que tem acontecido está em linha com o que esperávamos. Desde 2010 que os mercados têm vindo a retrair-se ao nível do investimento, e no primeiro semestre deste ano isso foi ainda mais visível. Este cenário de retracção financeira será mais acentuado em 2012.
 
 
S.I. – Que evolução prevêem para 2011 e qual é estratégia definida para corresponder aos desafios do mercado?
 
J.C.S. – O ano de 2011 será um ano ainda mais complicado do que 2010, mas o nosso objectivo mantém-se, ou seja, o de continuarmos a crescer, a inovar e a consolidar a estratégia que o Grupo tem desenvolvido ao longo dos últimos anos. Do ponto de vista estratégico, na realidade, não estamos a fazer nada diferente do que já tínhamos definido e que já estava em curso antes desta crise económica.
 
 
S.I. – Quantos clientes possuem no mercado nacional?
 
J.C.S. – Teremos a curto ou médio prazo mais de 400 centros de saúde. Na prática são todos os que existem em Portugal Continental, assim como todos os hospitais públicos. Além dos projectos desenvolvidos ao longo dos últimos anos, temos estado a implementar sistemas de informação para o rastreio de cancros do colo do útero, cólon e recto e para retinopatia diabética. Alguns destes projectos foram adquiridos localmente pelas ARS (Administração Regional de Saúde) e um deles, de âmbito nacional, foi adquirido pelo Alto Comissariado da Saúde. Isto quer dizer que qualquer centro de saúde ou hospital público usará, pelo menos, um sistema nosso. No privado temos mais 50 referências, entre elas, os Hospitais Privados de Portugal (HPP), a José de Mello Saúde, o Grupo SMIC, o IMI-Imagens Médicas Integradas, entre outras.
 
 
Polónia interessada na telemedicina
 
S.I. – Qual é o peso dos dois sectores no vosso negócio?
 
J.C.S. – Se fizermos essa avaliação ao nível da facturação de 2010, o mercado público representa cerca de 77% e o mercado privado 11%, sendo os restantes 12% resultantes de negócios internacionais.
 
 
S.I. – O objectivo é crescer o negócio fora de Portugal?
 
J.C.S. – O objectivo é que dentro de dois anos esse negócio represente cerca de 40% das vendas. O Grupo First entrou no mercado polaco neste ano, que representa um mercado com quase 40 milhões de habitantes e que tem uma previsão de crescimento do PIB superior a quatro por cento em 2011. No entanto, há que ter em mente que para terem sucesso na internacionalização, as empresas têm de começar por ter uma base extremamente sólida, nomeadamente no seu país de origem, e tem sido essa a nossa aposta.
 
 
S.I. – Quais são as soluções que o mercado internacional está a pedir?
 
J.C.S. – Não há uma regra. Cada mercado tem as suas particularidades. Por exemplo, em Espanha a nossa oferta para imagiologia, para os rastreios e mais recentemente para o controlo de infecções hospitalares tem sido muito bem recebida; existem oportunidades concretas a serem trabalhadas actualmente. Na Polónia, a solução que teve aceitação imediata foi a nossa plataforma de telemedicina para a área de telerradiologia, e mais recentemente estamos a trabalhar em algumas oportunidades para a radiologia e para o controlo de infecções. No Brasil, as que suscitaram maior interesse foram o Hepic (sistema de informação para controlo de infecções) e a plataforma de integração aplicacional orientada para a saúde (HDI), aliás, foi com estas soluções que se concretizaram os primeiros negócios. No Brasil estamos também com oportunidades de negócio na área dos rastreios e da imagiologia.
 
 
S.I. – Relativamente ao mercado nacional, o que procuram as entidades do sector?
 

J.C.S. – O SiiMA é indubitavelmente uma das soluções mais procuradas, visto que o mesmo software permite informatizar 14 áreas clínicas diferentes, sendo um aspecto diferenciador no mercado. Neste caso, o que acaba por acontecer é que clientes que anteriormente adquiriam o sistema para gerir uma área clínica acabam por querer o SiiMA para as outras especialidades. É muito comum, numa primeira fase, o cliente comprar o nosso RIS e numa segunda fase comprar os outros módulos para a cardiologia, gastro, oftalmologia, pneumologia, etc. Nos últimos meses também temos recebido muitas solicitações para o FirstTarget, que é parte integrante da suite Sinai (business intelligence). É a solução que permite a gestão da contratualização externa e interna de qualquer unidade de saúde. Esta gestão é operacionalizada através da definição de metas para indicadores que são consolidados automaticamente pela hierarquia organizacional da instituição. Esta solução permite ao gestor, director de serviço, médico, ou outro, controlar e monitorizar, em tempo real, o cumprimento dessas metas. Esta é uma solução que dá resposta a muitas das orientações que o nosso Executivo quer pôr em prática a curto prazo, por isso acreditamos que será uma solução com bastante aceitação no mercado.